Pode
parecer estranho, mas há uma estreita relação entre o comer e o funcionamento
mental, que já se revela nos dois aspectos do comportamento alimentar: a fome,
que é de ordem biológica, e o apetite, que é de ordem psíquica. A fome busca
regular o balanço energético, o apetite busca o prazer. Assim, o comer cumpre
duas funções importantes para o equilíbrio geral do homem: fonte de energia e
prazer.
A
obtenção de prazer é um dos motores do funcionamento psíquico e do comportamento
humano, que não é padronizado. Assim é que, se para o compulsivo
alimentar, que necessita de satisfação imediata, o comer é uma fonte principal
de prazer, para o anoréxico é fonte de angústia e para outros o comer cumpre
saudavelmente sua função de manutenção do balanço energético, havendo
equilíbrio entre seus aspectos biológicos e psicológicos.
Observando-se
o desenvolvimento do ser humano percebemos que o comer é uma das células do
desenvolvimento psíquico. O bebê nasce desprovido de um mundo mental, não
existe o sentimento de ser. Graças à sua imaturidade psíquica, o bebê quando
com alguma necessidade, como fome ou frio, sente desconfortos, mas sem ter
noção que aquela é uma sensação interna ao seu corpo e nem conseguir
diferenciar uma da outra. Pela falta de um aparelho psíquico que decodifique
estas sensações e lhe permita buscar satisfazê-las, o bebê reage a elas sempre
da mesma forma: chorando. É preciso que o ambiente externo a ele (mãe ou
substituto), identifique esta necessidade e a satisfaça, para que ele resgate a
sensação de bem-estar. O aparelho psíquico, que se compõe das representações
mentais, surgirá através dos cuidados maternos. O bebê com fome tem uma
experiência desagradável e a mãe, quando alimenta, livra-o desse desconforto. Essa
experiência fica registrada numa representação psíquica, criando-se uma
associação entre ser amamentado e satisfação. Quando, em outras vezes, este
bebê tiver a sensação de realidade e desenvolvendo a possibilidade de suportar
esperar, pois o evocar dessa representação psíquica lhe possibilitará antever
que a satisfação se repetirá.
Um
bebê que tarda ou nunca é satisfeito, assim como aquele que não chega a sentir
fome, por exemplo, porque a mãe o satisfaz antes que ele tenha a necessidade,
terá falhas no processo de formação das representações mentais. Por outro lado,
podemos ter uma mãe que interpreta tudo como fome e superalimenta o bebê.
Se
as representações mentais, não existem, não há recursos para decodificar um
problema, equacionar em palavras as tensões psíquicas (por exemplo, o que
angustia, o que deixa triste...). Sente-se um desconforto que não é possível
nomear e então, fugindo dele, busca-se uma fonte de “prazer”(alívio).
O
comer pode ser esta forma de prazer (alívio), buscada para escapar desta
experiência desagradável. Este mecanismo de busca de alívio de tensões
psíquicas através do comer é denominado “compulsão alimentar”.
A
compulsão alimentar frequentemente associa-se à obesidade, pois gera uma
ingestão alimentar extra, respondendo a uma demanda que é psíquica e não
biológica.
Assim,
entende-se a intolerância à frustração, peculiar ao compulsivo alimentar, pois
as falhas no seu desenvolvimento determinam recursos psíquicos limitados
para suportar e encontrar alívio das tensões.
O
compulsivo alimentar tem um funcionamento parecido com o do bebê. Sente um
desconforto, mas não sabe decodificá-lo, fica querendo ser aliviado
rapidamente, pois não tem recursos psíquicos que lhe permitam compreender a
situação e suportar esperar a solução. Ele busca o alimento da mesma forma que
recorria à mãe para aliviá-lo de seu desconforto. O compulsivo alimentar
confunde sensação de fome com emoções.
Autor
desconhecido
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