Atendendo famílias que vivenciam/vivenciaram o divórcio,
posso verificar alguns comportamentos freqüentes. Vou relatar aqui algumas de
minhas percepções.
Muitos pais têm dificuldade em conversar com os filhos
sobre o divórcio. Assim, comumente, sou procurada pelos pais para auxiliá-los
no momento de revelar a decisão do divórcio aos filhos. A maioria dos pais com
os quais tenho contato usa de estratégias como, por exemplo, inventar que o pai
viajou para se esquivar da conversa com os filhos. Esse silêncio deixa os
filhos inseguros e, em algumas situações, as crianças criam fantasias de culpa
sobre a separação dos pais.
Existem casos de crianças que desenvolveram problemas na
escola, passando a ter um rendimento escolar ruim e/ou um comportamento mais
agressivo. Pesadelos e comportamentos regressivos também acontecem. Geralmente,
a procura pela psicoterapia se dá no momento em que os pais percebem que o
divórcio gerou conseqüências aos filhos.
As crianças expressam de uma maneira mais lúdica, através
de desenhos, de brincadeiras com fantoches, ou de histórias criadas por elas, a
vontade de terem os pais juntos novamente. Muitas crianças relatam a existência
de brigas enquanto os pais eram
casados, mas ainda assim demonstram a vontade (e a
esperança) de que os pais voltem a
viver juntos. Muitos filhos queixam-se de que o pai, não
guardião, freqüentemente não aparece para buscá-los no fim de semana. Assim, a
maior queixa dos filhos é a de que o pai passou a se ausentar muito após o
divórcio.
Os adolescentes demonstram também vontade em ter os pais
casados, mas a grande maioria entende que juntos os pais não estavam felizes.
Percebo que existe uma maior proximidade dos filhos com aquele que ficou
responsável pela guarda, além de uma vontade por parte dos filhos de alcançar
um casamento que seja mais bem sucedido do que o casamento dos pais foi.
Em relação à diferença de sexo, não observo diferença
significativa na maneira dos filhos lidarem com as transições decorrentes do
divórcio. Entretanto, a idade aparece como um fator de influência. Para os
filhos que estão mais velhos quando o divórcio ocorre, é mais fácil lidar e
superar as adversidades, talvez pela maior capacidade em elaborar e entender o
que significa o divórcio.
Uma boa relação entre os ex-cônjuges e a manutenção de um
convívio saudável entre os filhos e ambos os pais mostra-se ser o apoio
fundamental para ajudar os filhos a passarem pelas transições decorrentes do
divórcio dos pais de maneira saudável e positiva.
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