O casamento
nem sempre ocorreu como conhecemos hoje.
Nas sociedades
antigas, o casamento tinha um papel fundamental na continuidade familiar. O
cônjuge era escolhido levando em conta os benefícios, tais como alianças entre
parentes, e possíveis vantagens, garantidos com a união das famílias. O desejo
de cada um dos cônjuges ou o sentimento que tinham um pelo outro não eram
relevantes.
No século XX, a partir da década de 1950, o casamento
e a escolha do cônjuge passaram a acontecer por amor, assim como a continuidade
do casamento se devia ao amor. Entretanto, da mesma maneira, a falta de amor
passou a ser um motivo suficiente para que um casamento fosse terminado.
(TRAVIS, 2003).
O casal
passa a concentrar-se mais na relação conjugal, buscando solidariedade, afeto e
apoio um no outro, construindo, assim, um modelo matrimonial baseado na
intimidade e na cumplicidade entre os cônjuges. Esse é apenas um dos aspectos
das transformações no modelo de casamento. (TRAVIS, 2003). A necessidade da
contribuição do salário da mulher como meio de ampliar a renda familiar e
garantir o nível de consumo doméstico foi outro fato que modificou a estrutura
familiar. As mulheres passam a ser importantes para suprir as necessidades
financeiras da família. Esse fator muda a condição feminina, uma vez que
possibilita sua independência financeira e redefine sua posição social na
família e no espaço público. Com isso, alteram-se também os padrões de
relacionamento entre homens e mulheres, o que desencadeia, por parte das
mulheres, questionamentos dos modelos hegemônicos ordenadores da família e da
sexualidade.
Na década de 1970, o movimento feminista se alastra,
chega a pílula anticoncepcional, (que separa radicalmente a sexualidade da
reprodução), passando o controle da reprodução biológica, que antes era do
homem, para a mulher. (ROMANELLI citado por PORRECA, 2004). Dá-se uma nova mudança: a
redefinição das relações homem-mulher e dos papéis sexuais. A desvinculação da
reprodução com a sexualidade dá poder à mulher de reivindicar o prazer sexual.
Ocorre assim a difusão de novas representações que valorizam a igualdade entre
os sexos, a autonomia do sujeito diante do controle familiar, maior liberdade
na expressão afetiva e sexual. A estabilidade da família passa a depender do recíproco consentimento dos cônjuges, no que compete à compatibilidade de gênios, adaptação sexual, harmonia conjugal, amor. (PORRECA, 2004).
Todo esse caminho contribuiu para que chegássemos à
relação conjugal que conhecemos hoje.
O casamento é uma relação diferente de todas as
outras, na qual os parceiros se comprometem numa história juntos. Cada um afeta
e é afetado pelo comportamento do outro. Ao morar junto, cada cônjuge deve
modificar-se internamente e organizar-se para dar início à construção de um mundo comum. O casamento
transforma a imagem de realidade dos parceiros. A colaboração, por exemplo,
passa a ocupar uma posição central na vida dos cônjuges. A construção de uma
casa, a criação dos filhos, os planos futuros, a segurança existencial passam a
ser objetivos em comum. É evidente que a liberdade, as escolhas pessoais e a
sensação de independência ficam reduzidas no casamento. Se as decisões
individuais de cada parceiro acabam por afetar o casal, é esperado que as
divergências ocorram. (WILLI citado por TRAVIS, 2003).
Para Peck e
Manocherian (1995), o casamento,
contemporaneamente, por ser baseado no amor, geralmente ocorre com o sonho de
ser duradouro. Porém, quando isso não ocorre, as pessoas partem para o divórcio
como uma saída e uma nova chance de encontrar a felicidade. O fim do casamento
pode gerar desapontamento, desespero, revanche, retaliação, ou pode causar um
grande alívio, sendo sempre mais conflitante quando um quer e o outro não.
Mas o divórcio já é um outro assunto que vai ser tratado
mais para frente...
Referências bibliográficas
-PECK, Judith Stern; MANOCHERIAN, Jennifer R. O divórcio nas mudanças do ciclo
de vida familiar. Em: CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Monica. (Org.) As mudanças
no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1995. Cap. 15.
- PORRECA, Wladimir. Famílias recompostas: casais católicos em segunda união.
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto. 2004. Dissertação
(Mestrado).
- TRAVIS, Susan. Construções familiares: um estudo sobre a clínica do recasamento.
Departamento de Psicologia. 2003. Tese (Doutorado).
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