Esses
dias li uma notícia que me chamou a atenção. A atriz mirim Ana Karolina, que é
órfã de mãe e não conhece o pai biológico, é criada pelo tio e seu
companheiro. Ana Karolina disse a uma
revista: “Eles têm atitudes normais
de pais: educam, repreendem, dão amor, carinho, ajudam quando preciso me
arrumar. Tive uma babá que falava:
''Coitada de você quando menstruar e for namorar. Imagine você sozinha com dois
homens (risos)!'' Mas tenho certeza de que, quando isso acontecer, eles vão
saber o que fazer.”
O modelo de família
nuclear composta por marido, mulher e filhos ainda é o que predomina na
sociedade brasileira. Porém, as exceções ao modelo tradicional de família podem
ser quase tão numerosas quanto os casos que obedecem ao modelo de família nuclear.
Está aí o caso da pequena Ana para comprovar isso.
A menina dá valor aos pais que tem
independente de ser um casal homoafetivo, pois recebe tudo aquilo que uma
criança deseja receber de seus pais: afeto. Claro que o processo de adaptação
não foi fácil. Ana disse ter realizado terapia durante muito tempo, mas não por
ser criada por dois homens, e sim, pela perda repentina de sua mãe e por ir
morar com um tio que não conhecia bem. Felizmente, com o tempo tio e sobrinha
criaram um bonito vínculo.
A multiplicidade e
a amplitude dessas famílias “não tradicionais” têm criado grandes problemas na
definição das formas de família que caracterizariam a nossa sociedade, além de frequentemente
levantarem a questão da desagregação da família e de sua progressiva destruição.
Entretanto, Cerveny
e Berthoud (2009) afirmam que a família não se deteriorou ou enfraqueceu. Ao
contrário, com sua imensa capacidade de adaptação, a família vem se
transformando sem deixar de cumprir as funções consideradas estruturadoras e
definidoras da própria instituição família: sua função biológica de garantir a
proteção e o cuidado das novas gerações e sua função social de transmissão de
padrões e normas culturais.
Porreca (2004), mencionando
alguns novos arranjos familiares, identifica: as famílias monoparentais, que
podem ser matrifocais ou patrifocais, quando o guardião (mãe ou pai) cria os
filhos sem um companheiro permanente; as famílias ampliadas, que incluem a
presença de outros parentes junto aos componentes da família nuclear, por exemplo,
os avós; e as famílias recompostas, quando um dos parceiros, ou ambos, já tiveram
uma primeira união com filhos e vivem com novos parceiros. Eu acrescento a
família da Ana, a família homoafetiva.
Essa diversidade
mostra que não se pode analisar a família no singular, como uma realidade
homogênea. É necessário apreender a heterogeneidade da organização doméstica em
seus diversos aspectos. Contudo, Cerveny e Berthoud (2009) afirmam que não se
pode dizer que exista “novas versões de família brasileira”. O que surge são famílias
“mutantes”, ou seja, famílias que se reorganizam e se reinventam, produzindo e reproduzindo
valores, modelos de comportamento e formas de organização.
Se a afetividade é a base
para a criação de uma família, o que menos importa é o arranjo familiar...
Referências bibliográficas:
- CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira; BERTHOUD, Cristiana Mercadante Esper. Ciclo vital da família brasileira. In: OSORIO, Luiz Carlos; VALLE, Maria Elizabeth do. Manual de terapia familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009.
-PORRECA, Wladimir. Famílias recompostas: casais católicos em segunda união. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto. 2004. Dissertação (Mestrado).
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