segunda-feira, 23 de julho de 2012

A NOSSA MENTE E O NOSSO COMER




Pode parecer estranho, mas há uma estreita relação entre o comer e o funcionamento mental, que já se revela nos dois aspectos do comportamento alimentar: a fome, que é de ordem biológica, e o apetite, que é de ordem psíquica. A fome busca regular o balanço energético, o apetite busca o prazer. Assim, o comer cumpre duas funções importantes para o equilíbrio geral do homem: fonte de energia e prazer. 


A obtenção de prazer é um dos motores do funcionamento psíquico e do comportamento humano, que não é padronizado. Assim é que, se para o compulsivo alimentar, que necessita de satisfação imediata, o comer é uma fonte principal de prazer, para o anoréxico é fonte de angústia e para outros o comer cumpre saudavelmente sua função de manutenção do balanço energético, havendo equilíbrio entre seus aspectos biológicos e psicológicos.

Observando-se o desenvolvimento do ser humano percebemos que o comer é uma das células do desenvolvimento psíquico. O bebê nasce desprovido de um mundo mental, não existe o sentimento de ser. Graças à sua imaturidade psíquica, o bebê quando com alguma necessidade, como fome ou frio, sente desconfortos, mas sem ter noção que aquela é uma sensação interna ao seu corpo e nem conseguir diferenciar uma da outra. Pela falta de um aparelho psíquico que decodifique estas sensações e lhe permita buscar satisfazê-las, o bebê reage a elas sempre da mesma forma: chorando. É preciso que o ambiente externo a ele (mãe ou substituto), identifique esta necessidade e a satisfaça, para que ele resgate a sensação de bem-estar. O aparelho psíquico, que se compõe das representações mentais, surgirá através dos cuidados maternos. O bebê com fome tem uma experiência desagradável e a mãe, quando alimenta, livra-o desse desconforto. Essa experiência fica registrada numa representação psíquica, criando-se uma associação entre ser amamentado e satisfação. Quando, em outras vezes, este bebê tiver a sensação de realidade e desenvolvendo a possibilidade de suportar esperar, pois o evocar dessa representação psíquica lhe possibilitará antever que a satisfação se repetirá.

Um bebê que tarda ou nunca é satisfeito, assim como aquele que não chega a sentir fome, por exemplo, porque a mãe o satisfaz antes que ele tenha a necessidade, terá falhas no processo de formação das representações mentais. Por outro lado, podemos ter uma mãe que interpreta tudo como fome e superalimenta o bebê.

Se as representações mentais, não existem, não há recursos para decodificar um problema, equacionar em palavras as tensões psíquicas (por exemplo, o que angustia, o que deixa triste...). Sente-se um desconforto que não é possível nomear e então, fugindo dele, busca-se uma fonte de “prazer”(alívio).

O comer pode ser esta forma de prazer (alívio), buscada para escapar desta experiência desagradável. Este mecanismo de busca de alívio de tensões psíquicas através do comer é denominado “compulsão alimentar”.

A compulsão alimentar frequentemente associa-se à obesidade, pois gera uma ingestão alimentar extra, respondendo a uma demanda que é psíquica e não biológica.

Assim, entende-se a intolerância à frustração, peculiar ao compulsivo alimentar, pois as falhas no seu desenvolvimento determinam recursos psíquicos limitados para suportar e encontrar alívio das tensões.

O compulsivo alimentar tem um funcionamento parecido com o do bebê. Sente um desconforto, mas não sabe decodificá-lo, fica querendo ser aliviado rapidamente, pois não tem recursos psíquicos que lhe permitam compreender a situação e suportar esperar a solução. Ele busca o alimento da mesma forma que recorria à mãe para aliviá-lo de seu desconforto. O compulsivo alimentar confunde sensação de fome com emoções.

Autor desconhecido

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