terça-feira, 24 de julho de 2012

Minha experiência clínica com famílias de pais divorciados


Atendendo famílias que vivenciam/vivenciaram o divórcio, posso verificar alguns comportamentos freqüentes. Vou relatar aqui algumas de minhas percepções.

Muitos pais têm dificuldade em conversar com os filhos sobre o divórcio. Assim, comumente, sou procurada pelos pais para auxiliá-los no momento de revelar a decisão do divórcio aos filhos. A maioria dos pais com os quais tenho contato usa de estratégias como, por exemplo, inventar que o pai viajou para se esquivar da conversa com os filhos. Esse silêncio deixa os filhos inseguros e, em algumas situações, as crianças criam fantasias de culpa sobre a separação dos pais.

Existem casos de crianças que desenvolveram problemas na escola, passando a ter um rendimento escolar ruim e/ou um comportamento mais agressivo. Pesadelos e comportamentos regressivos também acontecem. Geralmente, a procura pela psicoterapia se dá no momento em que os pais percebem que o divórcio gerou conseqüências aos filhos.

As crianças expressam de uma maneira mais lúdica, através de desenhos, de brincadeiras com fantoches, ou de histórias criadas por elas, a vontade de terem os pais juntos novamente. Muitas crianças relatam a existência de brigas enquanto os pais eram
casados, mas ainda assim demonstram a vontade (e a esperança) de que os pais voltem a
viver juntos. Muitos filhos queixam-se de que o pai, não guardião, freqüentemente não aparece para buscá-los no fim de semana. Assim, a maior queixa dos filhos é a de que o pai passou a se ausentar muito após o divórcio.

Os adolescentes demonstram também vontade em ter os pais casados, mas a grande maioria entende que juntos os pais não estavam felizes. Percebo que existe uma maior proximidade dos filhos com aquele que ficou responsável pela guarda, além de uma vontade por parte dos filhos de alcançar um casamento que seja mais bem sucedido do que o casamento dos pais foi.

Em relação à diferença de sexo, não observo diferença significativa na maneira dos filhos lidarem com as transições decorrentes do divórcio. Entretanto, a idade aparece como um fator de influência. Para os filhos que estão mais velhos quando o divórcio ocorre, é mais fácil lidar e superar as adversidades, talvez pela maior capacidade em elaborar e entender o que significa o divórcio.

Uma boa relação entre os ex-cônjuges e a manutenção de um convívio saudável entre os filhos e ambos os pais mostra-se ser o apoio fundamental para ajudar os filhos a passarem pelas transições decorrentes do divórcio dos pais de maneira saudável e positiva.

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