segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CHEGA DE CHUCHU



Passada a fase inicial de qualquer relacionamento, vem o indicador mais claro da intimidade incipiente: apelidos carinhosos.
Atire a primeira pedra quem nunca, jamais, em tempo algum, se pegou fazendo uma vozinha adocicada, infantilizada (e, claro, muito ridícula e constrangedora para quem não está na mesma sintonia) para o ser amado! O primeiro sintoma se manifesta com discrição e parcimônia, através de um diminutivo do nome: Rodrigo vira Rô, vira Digo, vira Di. Geralmente, se todo mundo chama o seu Lucas de Lucão, você arranja um jeito de chamá-lo de Lu. Sempre uma questão de demarcar um nome que seja só de vocês.
Num segundo momento, criam-se os nomes recíprocos, em que os dois apaixonados se chamam, mutuamente, de “perfeição”, “belezinha”, “delícia” ou tatu, (como, confesso envergonhada, como se isso aqui fosse um grupo de autoajuda, foi – e continua sendo – meu caso, mas isso é pra outra crônica).

Na terceira fase, exclusiva para quem ingressa no campo dos relacionamentos de longo prazo, o próprio apelido ganha um apelido, e é nessa hora que Amor (que se aplica a qualquer nome) vira mô, more, moreco, qualquer das opções ou todas as anteriores antes de virar casamento (ou ódio, o que também é frequente).
Destacam-se também os apelidos retrô (ou vintage, como muito se fala) que são aqueles que nossos ancestrais usam: querido, meu bem, benzinho e, numa linguagem mais casual, o clássico da falta de classe: ô, benhêeee!!!

Agora, o que me intriga mesmo, de tudo o que já foi dito, é o hábito estranho de as pessoas apaixonadas, no Brasil, com o passar do tempo e quase sempre no último estágio do amor e da intimidade, chamarem-se de chuchu.
Olha só: alguém aqui ama chuchu? Acha chuchu a coisa mais extraordinária do planeta? Quem é apaixonado por chuchu, gente? Quem conhece um único ser que fala: hum, hoje é meu aniversário, vamos comer um chuchu delicioso! Ou sabe me indicar um restaurante que faz chuchus di-vi-nos? Imagine você sendo convidada: – Então, amiga, amanhã vou fazer uma chuchuzada lá em casa, vem comer!
Pelo contrário, o chuchu é o sinônimo da falta de graça. Picolé de chuchu, o ápice da falta de gosto, de sabor. Fora a malfadada expressão que se refere ao chuchu dando na cerca… E, apesar de todas essas ponderações, segue o chuchu reinando nos apelidos amorosos, destacando-se, como descobri em minhas profundas investigações sobre o tema, ser este costume exclusivamente nacional, tão típico como o samba, o carnaval e o futebol, mas muito mais exclusivo, já que, em nenhum dos países pesquisados, e em nenhum outro idioma, os amantes se apelidam, notória e repetidamente, de um legume… Seria até adequado, que, na Inglaterra, devido à adoração por batatas, “potato” fosse um apelidinho comum…ou, sei lá, na Itália, existissem milhares de casais tomatinhos apaixonados, mas não, é um mistério brasileiro essa padronização .
Os defensores dirão: mas o chuchu é o legume aconchegante, cotidiano, um conforto! Além disso, ninguém odeia chuchu. O máximo da rejeição ao chuchu é a indiferença, um ar blasé do tipo, “hum, nem fede nem cheira”.
O problema é que Freud defende, até onde eu entendo de Freud, que a gente nomeia o mundo de acordo com o que se passa no nosso inconsciente… Então, por via das dúvidas, chega de enchuchuzar os amores! Afinal, não é isso que buscamos quando estamos apaixonadas…
Se queremos sabor, ardor, doçura e surpresa, se queremos uma explosão de gosto, chuchu nenhum do mundo poderá nos proporcionar. Abaixo ao chuchu!

Por Laura Henriques

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