terça-feira, 27 de novembro de 2012

INFINITO AO MEU REDOR

Esse fim de semana teve show da Marisa Monte aqui no Palácio das Artes. Sou super fã dela e isso me lembrou de um texto  que ela escreveu contando um pouco de sua história. 

Achei o texto super bacana, no qual ela conta o seu crescimento pessoal e profissional. A maneira própria como enxerga as coisas da vida, as parcerias que estabeleceu, o modo como corre atrás dos objetivos com dedicação e determinação, como lida com as adversidades, como inclui  os erros como parte da vida,  etc., são inspiradores. Por isso, resolvi compartilhá-lo. 

Marisa não é uma diva da música atoa. Tão humana e tão brilhante, se compromete e batalha para dar o seu melhor naquilo que propõe... Ah, se todos fossem assim! Assim como um show, a vida é imprevisível, não é como um ensaio. Temos que lidar e enfrentar imprevistos, tropeços e momentos de grande emoção. Acho que a história dela pode ajudar cada um a buscar e dar o seu melhor nas diversas fases da vida. 

"Tenho 40 anos. Sou música: MARISA MONTE. 

A música é um meio de transporte e assim como me leva para o outro lado do mundo também me traz de volta para casa.

Comecei muito nova. Pessoas de 30 anos dizem que me escutam desde a infância. Cheguei a conclusão que sou uma jovem veterana. 

A música sempre me atraiu. Minha irmã tinha aulas de piano e eu assistia. Gostava de escrever no caderno letras de música para depois cantar junto com os discos. Meu pai era ligado a Portela e diziam que eu tinha ritmo, quando sambava.

Aos 9 anos ganhei meu primeiro instrumento: uma bateria. Pratiquei até os 12 anos. Participava em shows no colégio até 14 anos - 1ª vez que cantei para platéia. Gostei. Passei a fazer aulas de canto. 20 anos, depois na Austrália, penso que jamais sonhei em ir tão longe.

Me tornei uma profissional da música. Sobrevivo fazendo música e mais raro que isso, consegui minha independência artística, pouco comum nesta indústria. 

Penso que isso se deu porque trabalhei com a intenção de compreender os meios de produção da minha profissão. Cantar se desdobra em muito mais que simplesmente compor e cantar. Se você canta profissionalmente significa que você se relaciona com o negócio da música. Existe uma indústria que ganha dinheiro botando música no mundo. Os músicos são a origem e parte desta indústria. 

Eu aprendi a dialogar com essa indústria. Tenho um selo chamado Phonomotor e desde o primeiro disco trabalho em parceria com uma multinacional, a EMI. Ter um selo significa ser dono de sua obra. Ter um parceiro como a EMI significa experiência e alcance na distribuição e promoção destes discos. 

Um músico ganha a vida de duas formas: direitos sobre as músicas que compõe, toca e interpreta ou se apresentando em shows. 

Quando em março de 2006 lancei dois álbuns sabia que um novo ciclo se iniciava. Ambos são o resultado de um intervalo de três anos longe do palco. Neste intervalo compuz, produzi e fui mãe. Quando paro para pensar em como seria o DVD destes novos discos tive vontade de fazê-lo na forma de documentário sobre a atividade profissional de um músico. Algo como seguir um ano de trabalho de um profissional como um cirurgião ou de um motorista de caminhão. Queria mostrar como é o trabalho por trás da marca. Cada músico tem sua maneira própria de construir sua carreira.  Eu conto aqui como é a minha, explicando no particular o universo da minha profissão. 

O ponto de partida de tudo é a vontade de fazer música e que essa música possa se comunicar com outras pessoas.

O negócio da música é assim: o músico faz uma canção, às vezes só a letra, às vezes só a música, às vezes os dois. A composição é o momento onde a profissão do músico mais se parece com o que as pessoas imaginam dessa profissão. 

O músico grava essa música, toca para microfones que gravam e depois misturam-se, os diversos sons: é o que se chama mixagem. Existe o momento em que o disco composto se apresenta ao mundo e a música se desdobra em imagens, textos e uma série de sub-produtos na indústria. Quando esse pacote está pronto você marca um encontro com a imprensa. A imprensa é uma instituição e uma indústria que existe para informar, provocar discussões e vender notícias. Reúne muitas pessoas diferentes. O primeiro público é profissional, é o público crítico. É como entrar, conscientemente, no estouro de uma boiada. 

Não é fácil falar sobre o que você faz. Responder perguntas que você não sabe. Explicar coisas que você nunca pensou. Mas depois do terceiro dia o corpo se acostuma a tensão e surge um resumo coerente em torno das idéias dos discos e aí você está pronta para responder as mesmas perguntas pelos próximos dois anos. Este é o momento em que não existe música, só existe o verbo. 

Terminada essa fase o músico está pronto para a nova fase: a turnê. 

Existem mulheres que compram sapatos e bolsas de grife. Eu, gosto de investir meu dinheiro fazendo shows. É a minha maior vaidade.

Montar shows custa dinheiro. A equação é sempre a mesma, você não pode gastar mais do que ganha. 

Estávamos em março de 2006, revolução musical pela internet e pirataria. Queda nas vendas e isso gerou crise.

Em 20 anos de carreira eu nunca tive patrocínio. Este ano foi diferente. A Natura é uma marca de cosméticos brasileira que investe em música. Eu estaria associando, pela primeira vez, minha música a uma marca. Achei justo. Meu trabalho ajudaria a divulgar os ideais da Natura e esta me ajudaria a desenvolver o meu trabalho. 

O processo do show começa meses antes da estréia. Mas treino é treino e jogo é jogo. E o show só fica pronto quando encontra o público. A reação da platéia é o que conduz diálogo e dá sentido ao show. 

Numa apresentação ao vivo tudo deve dar certo. O público quer assistir ao show perfeito e o músico quer oferecer uma performance perfeita. Mas o show não é um filme ou um disco. O show é a vida real. Estreei confiante e ao mesmo tempo nervosa. Mas tensão é fundamental, sem ela a corda do violino não soa. 

Na estréia em São Paulo eu tive um branco em cena: a letra simplesmente não vinha a cabeça. Errei. O erro é o momento muito especial para um músico. Nestas ocasiões platéia e músico passam a viver um momento de cumplicidade e improvisação. Um erro torna um show marcante. faz parte do circo, assim como a queda do trapezista".  

Bacana, não?!!

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