segunda-feira, 14 de maio de 2012

Casamento: o que é isso, afinal? Parte 2


O casamento nem sempre ocorreu como conhecemos hoje.
Nas sociedades antigas, o casamento tinha um papel fundamental na continuidade familiar. O cônjuge era escolhido levando em conta os benefícios, tais como alianças entre parentes, e possíveis vantagens, garantidos com a união das famílias. O desejo de cada um dos cônjuges ou o sentimento que tinham um pelo outro não eram relevantes.
No século XX, a partir da década de 1950, o casamento e a escolha do cônjuge passaram a acontecer por amor, assim como a continuidade do casamento se devia ao amor. Entretanto, da mesma maneira, a falta de amor passou a ser um motivo suficiente para que um casamento fosse terminado. (TRAVIS, 2003).
O casal passa a concentrar-se mais na relação conjugal, buscando solidariedade, afeto e apoio um no outro, construindo, assim, um modelo matrimonial baseado na intimidade e na cumplicidade entre os cônjuges. Esse é apenas um dos aspectos das transformações no modelo de casamento. (TRAVIS, 2003). A necessidade da contribuição do salário da mulher como meio de ampliar a renda familiar e garantir o nível de consumo doméstico foi outro fato que modificou a estrutura familiar. As mulheres passam a ser importantes para suprir as necessidades financeiras da família. Esse fator muda a condição feminina, uma vez que possibilita sua independência financeira e redefine sua posição social na família e no espaço público. Com isso, alteram-se também os padrões de relacionamento entre homens e mulheres, o que desencadeia, por parte das mulheres, questionamentos dos modelos hegemônicos ordenadores da família e da sexualidade.
Na década de 1970, o movimento feminista se alastra, chega a pílula anticoncepcional, (que separa radicalmente a sexualidade da reprodução), passando o controle da reprodução biológica, que antes era do homem, para a mulher. (ROMANELLI citado por PORRECA, 2004). Dá-se uma nova mudança: a redefinição das relações homem-mulher e dos papéis sexuais. A desvinculação da reprodução com a sexualidade dá poder à mulher de reivindicar o prazer sexual. Ocorre assim a difusão de novas representações que valorizam a igualdade entre os sexos, a autonomia do sujeito diante do controle familiar, maior liberdade na expressão afetiva e sexual. A estabilidade da família passa a depender do recíproco consentimento dos cônjuges, no que compete à compatibilidade de gênios, adaptação sexual, harmonia conjugal, amor. (PORRECA, 2004).
Todo esse caminho contribuiu para que chegássemos à relação conjugal que conhecemos hoje.
O casamento é uma relação diferente de todas as outras, na qual os parceiros se comprometem numa história juntos. Cada um afeta e é afetado pelo comportamento do outro. Ao morar junto, cada cônjuge deve modificar-se internamente e organizar-se para dar início à construção de um mundo comum. O casamento transforma a imagem de realidade dos parceiros. A colaboração, por exemplo, passa a ocupar uma posição central na vida dos cônjuges. A construção de uma casa, a criação dos filhos, os planos futuros, a segurança existencial passam a ser objetivos em comum. É evidente que a liberdade, as escolhas pessoais e a sensação de independência ficam reduzidas no casamento. Se as decisões individuais de cada parceiro acabam por afetar o casal, é esperado que as divergências ocorram. (WILLI citado por TRAVIS, 2003).
Para Peck e Manocherian (1995), o casamento, contemporaneamente, por ser baseado no amor, geralmente ocorre com o sonho de ser duradouro. Porém, quando isso não ocorre, as pessoas partem para o divórcio como uma saída e uma nova chance de encontrar a felicidade. O fim do casamento pode gerar desapontamento, desespero, revanche, retaliação, ou pode causar um grande alívio, sendo sempre mais conflitante quando um quer e o outro não.
Mas o divórcio já é um outro assunto que vai ser tratado mais para frente...

Referências bibliográficas
-PECK, Judith Stern; MANOCHERIAN, Jennifer R. O divórcio nas mudanças do ciclo
de vida familiar. Em: CARTER, Betty; MCGOLDRICK, Monica. (Org.) As mudanças
no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1995. Cap. 15.
PORRECA, Wladimir. Famílias recompostas: casais católicos em segunda união.
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto. 2004. Dissertação
(Mestrado).
TRAVIS, Susan. Construções familiares: um estudo sobre a clínica do recasamento.
Departamento de Psicologia. 2003. Tese (Doutorado).

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