terça-feira, 15 de maio de 2012

Famílias "mutantes"


Esses dias li uma notícia que me chamou a atenção. A atriz mirim Ana Karolina, que é órfã de mãe e não conhece o pai biológico, é criada pelo tio e seu companheiro.  Ana Karolina disse a uma revista: “Eles têm atitudes normais de pais: educam, repreendem, dão amor, carinho, ajudam quando preciso me arrumar. Tive uma babá que falava: ''Coitada de você quando menstruar e for namorar. Imagine você sozinha com dois homens (risos)!'' Mas tenho certeza de que, quando isso acontecer, eles vão saber o que fazer.” 

O modelo de família nuclear composta por marido, mulher e filhos ainda é o que predomina na sociedade brasileira. Porém, as exceções ao modelo tradicional de família podem ser quase tão numerosas quanto os casos que obedecem ao modelo de família nuclear. Está aí o caso da pequena Ana para comprovar isso.

A menina dá valor aos pais que tem independente de ser um casal homoafetivo, pois recebe tudo aquilo que uma criança deseja receber de seus pais: afeto. Claro que o processo de adaptação não foi fácil. Ana disse ter realizado terapia durante muito tempo, mas não por ser criada por dois homens, e sim, pela perda repentina de sua mãe e por ir morar com um tio que não conhecia bem. Felizmente, com o tempo tio e sobrinha criaram um bonito vínculo.

A multiplicidade e a amplitude dessas famílias “não tradicionais” têm criado grandes problemas na definição das formas de família que caracterizariam a nossa sociedade, além de frequentemente levantarem a questão da desagregação da família e de sua progressiva destruição.

Entretanto, Cerveny e Berthoud (2009) afirmam que a família não se deteriorou ou enfraqueceu. Ao contrário, com sua imensa capacidade de adaptação, a família vem se transformando sem deixar de cumprir as funções consideradas estruturadoras e definidoras da própria instituição família: sua função biológica de garantir a proteção e o cuidado das novas gerações e sua função social de transmissão de padrões e normas culturais.

Porreca (2004), mencionando alguns novos arranjos familiares, identifica: as famílias monoparentais, que podem ser matrifocais ou patrifocais, quando o guardião (mãe ou pai) cria os filhos sem um companheiro permanente; as famílias ampliadas, que incluem a presença de outros parentes junto aos componentes da família nuclear, por exemplo, os avós; e as famílias recompostas, quando um dos parceiros, ou ambos, já tiveram uma primeira união com filhos e vivem com novos parceiros. Eu acrescento a família da Ana, a família homoafetiva.

Essa diversidade mostra que não se pode analisar a família no singular, como uma realidade homogênea. É necessário apreender a heterogeneidade da organização doméstica em seus diversos aspectos. Contudo, Cerveny e Berthoud (2009) afirmam que não se pode dizer que exista “novas versões de família brasileira”. O que surge são famílias “mutantes”, ou seja, famílias que se reorganizam e se reinventam, produzindo e reproduzindo valores, modelos de comportamento e formas de organização.

Se a afetividade é a base para a criação de uma família, o que menos importa é o arranjo familiar...

Referências bibliográficas:

CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira; BERTHOUD, Cristiana Mercadante Esper. Ciclo vital da família brasileira. In: OSORIO, Luiz Carlos; VALLE, Maria Elizabeth do. Manual de terapia familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009.
-PORRECA, Wladimir. Famílias recompostas: casais católicos em segunda união. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto. 2004. Dissertação (Mestrado).

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